Portbou
Quando parei à espera do comboio em Cerbére, nem saí da estação. Não me lembrei onde estava e ocupei o tempo com os meus pensamentos. À volta, antes de me entreter comigo mesmo, resolvi não cometer o mesmo erro e depois de comprar o bilhete que me leva de volta a Barcelona, saí da estação por umas escadas que são uma entrada para um meio de transporte pouco acessível para pessoas com mobilidade reduzida. Passo por uns cafés feios na rua que continua a descer. A altura da estação são 37 metros face ao nível médio do Mediterrâneo, que não estará a mais de 500 metros, o que torna o declive assinalável.
Com uma hora e meia de espera, gostava de ir ver a fronteira onde o cão silencioso do romance do Saramago se decide por um salto através da fenda que na história separa a Europa da nova janfgada. Só quando já estava em França é que me lembro do que tinha lido e no regresso, a curiosidade instalou-se. Uma pressa fora de tempo faz com que a caminhada de 3 km que a placa assinala, a subir, como o mapa da cidade parece indicar olhando para a direcção da estrada e que a montanha à minha frente impõe, se torne uma viagem que afinal não quero fazer. Se calhar, um pequeno medo de quando lá passar, que a terra comece também a tremer sob os meus pés e que Ibéria fuja da Europa. Decidir para que lado iria não seria, naquele dia, fácil e quem sabe me decidisse pelo abismo que hipoteticamente se abriria abaixo de mim.
Fico-me pela praia, pequena, escura e naquele dia fria, como parece reclamar o turista que meio de propósito, meio por acidente, molha os sapatos de ténis no mar enquanto lhe tiram a fotografia.
Resolvo voltar para a estação e chama-me à atenção um corredor sem luz nem destino, na continuação das escadas de acesso à estação. Nenhuma barreira física impede alguém de prosseguir em frente, rumo à escuridão e ao desconhecido, apenas um aviso "Prohibido el paso". Ainda tive alguma curiosidade, mas o pensamento de que se tratava de uma tentação juvenil, inconsequente e que provavelmente acabaria comigo a bater com o nariz numa parede invisível fizeram-me voltar para as linhas.
Etiquetas: Cidades
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