Conversa, futebol, cinema, música, viagens, banda desenhada, culinária e as coisas estranhas que acontecem na minha vida.

terça-feira, agosto 02, 2005

Manifesto anti Mário Soares

Quem me conhece sabe que me caracterizo politicamente por ser de esquerda. Sinceramente, acredito mais em ser de cima do que de esquerda ou de direita porque acho que depende de muita coisa, e por exemplo, em termos de política de defesa e de administração interna sou mais de direita do que de esquerda em vários aspectos. Mas socialmente e economicamente estou mais para os lados do camarada Marx do que com o padre Adam Smith (mal sabia ele que algum dia seria associado a este género de coisas)...
Aproximam-se as eleições presidenciais. Sou um republicano convicto, acho que a monarquia é um atentado directo a "todos os homens (e mulheres) nascem livres e iguais" e por isso estou contente por viver numa república e não ter pessoas que, por direito de nascimento, são classificadas, mesmo que apenas em determinados círculos, FORMALMENTE superiores a mim. Acredito na nossa constituição que é bastante equilibrada e acho que o papel do Presidente da República está bem definido para o funcionamento democrático (com todas as coisas boas e más que a democracia tem) do país.
O candidato da direita (veremos se o CDS se continua a resumir a viver à sombra do PSD e não apresenta um candidato próprio) será, tudo indica, Cavaco Silva. Este senhor tem como currículo pegar no país mais atrasado da Europa Ocidental e, à custa de muita injecção de dinheiro, revolucionar a nossa economia, credibilizando-a, afastando tiques de economias planeadas, anacrónicos no contexto europeu, e pô-la no século XX. No final dos seus longos mandatos como primeiro ministro, eu já não o podia ver à frente. A postura arrogante de quem está no poder há muito tempo sem adversário à altura dava-me naúseas. O senhor foi derrotado nas eleições pelo vergonhoso António Guterres e o país derrapou lentamente para o pântano... de onde eu espero que saia em breve, após aquilo que espero, seja o nosso período de ajustamento para a economia do séc. XXI.
Voltando às eleições presidenciais, a esquerda, nomeadamente o PS, demorou até encontrar um candidato. Faltam personalidades carismáticas à esquerda nacional. O vergonhoso Guterres arranjou um tacho na ONU, o António Vitorino não aceita nenhum tipo de cargo político para o qual tenha de ser submetido a uma eleição (medo de perceber que, apesar de provavelmente mais competente do que outro qualquer, o POVO - esse monstro - preferiria outro sujeito qualquer) e a perspectiva de ver o Freitas do Amaral como presidente de esquerda (apesar de ele ser coerente quando diz que o que ele achava que era centrismo há 20 anos atrás passar agora por esquerda) era incompatível com os resquícios de socialismo que ainda há no Partido Socialista. Falou-se então em Manuel Alegre, alguém da ala esquerda do PS, recém derrotado na corrida ao posto de "Big Kahuna" (não sei o nome exacto) do partido, que praticamente funcionaram como umas nada democráticas eleições primárias para primeiro ministro, visto que era impossível o PS não ganhar as eleições ao indiscritível Pedro Santana Lopes.
Primeiro hesitante, depois a recusar essa possibilidade, finalmente Manuel Alegre aceita o desafio e diz estar disponível para avançar pelo partido. Mas nas entranhas do monstro maligno que é o PS, a ala direita do partido (aquela que manda nas coisas agora), particularmente o actual primeiro ministro, desconfio eu, não ficam muito contentes em ter alguém tão... de esquerda a concorrer a um cargo tão importante. Alternativas? Só uma... Mário Soares, o ex-primeiro ministro, ex-presidente.
Fiquei intrigado com a possibilidade de alguém que já foi presidente por duas vezes poder voltar a ser. Pensava que era algo que se podia fazer apenas um determinado número de vezes e não um determinado número de vezes SEGUIDAS. Infelizmente, é a segunda opção que ocorre. Em primeiro lugar, devo dizer que se há um limite de idade inferior para se ser Presidente da República, não percebo porque é que não há um limite superior. De preferência um que afastasse imediatamente este senhor da possibilidade de se recandidatar. Não gosto de ver gente tão velha nos destinos da nação. Para avôs, já nos bastaram os 48 anos de ditadura maligna... Mas porque é que raio é que eu não quero que ele se recandidate?
Aqui ficam as minhas razões:
1 - Amiguinho dos americanos durante o PREC, foi fundamental no não estabelecimento de um regime comunista "soviético". A troco de quê? As amizades da família com elementos de reputação duvidosa como Franks Carluccis e afins dão-me uma certa urticária. E não, nem todos os fins justificam os meios.
2 - Ajudou no processo de descolonização. E como! Ainda não percebo como é que coisas como é que S. Tomé e Principe não é um protectorado nosso (como a França tem os seus), Cabo Verde uma Região Autónoma como os Açores ou a Madeira (nunca houve luta armada em Cabo Verde e apesar dos intelectuais do PAIGC serem naturais do arquipélago, o músculo estava todo na Guiné-Bissau) e Timor é entregue ao seu próprio destino da forma que foi. Ainda temos os monárquicos (alguns se calhar terão uma melhor memória histórica) a afirmar que Cabinda também deveria ter sido mantida pois não pertencia senão em termos administrativos a Angola.
3 - Primeiro Ministro incapaz de credibilizar a economia, potenciar o desenvolvimento social e fazer o país dar o salto que deu quando alguém mais capaz assumiu o poder.
4 - Presidente da República que se notabilizou por passear mais do que qualquer outro e servir de contrapoder ao Primeiro Ministro mais do que qualquer outro.
5 - Capaz de "puxar o tapete" ao seu "camarada" Manuel Alegre, servindo assim (a troco de quê, não se sabe) os interesses da ala direita do PS...
Tudo isto me deixa um pouco nervoso e parece-me que estamos em presença de mais uma prova que a classe política portuguesa deixa muito a desejar em termos de transparência, sentido de missão e ética (para não falar de competência).
Estou ansioso por ver a reacção dos partidos mais à esquerda...

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9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

para esquerdista, este post tem alguns tiques reaccionários ;) e, entre Soares e Alegre, só formalmente é que Alegre é ala esquerda e Soares é ala direita. da maneira como as coisas estão, são ambos ala esquerda!!!

agosto 02, 2005 2:14 da tarde

 
Blogger Hugo Viseu said...

Eu tenho tiques de reaccionário... Só que a diferença é que não me identifico nada com o Soares e o Manuel Alegre não me faz confusão... e depois o Alegre não tem estas nódoas no currículo. Quando muito tem poesias... e entre políticos incompetentes e sobre-avaliados e poetas, prefiro os últimos.

agosto 02, 2005 6:42 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

anónimo, quase me atrevo a dizer que "da maneira como as coisas estão", PS não é ala esquerda. mas adiante...

eu prefiro poetas a avôzinhos. mas acho que esta escolha já foi feita...

agosto 03, 2005 5:38 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

exactamente. PS não é ala esquerda. por isso mesmo é que Soares é ala esquerda... sabes como é, palavras leva-as o vento.

agosto 04, 2005 11:53 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

O Alegre não tem nódoas... bem isso daria aso a um fenómeno biológico interessante, 1º pq de facto será em si "a nodóa", mas não "a Rainha das nódoas", aquela que mata a quebeça aos senhores que estão nos centros comerciais a espalhar molhos nas camisas das senhoras que fingem passar por alí ao acaso.

Qto mto será uma nodoazita de sabonete! Não tem curriculo suficiente para ser uma nódoa de vinho, por exemplo.

Felizmente para todos nós!!!!

agosto 14, 2005 9:56 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

(onde é que eu edito o comentário?!?!? "Quebeça"??? Mas no que é que eu estava a pensar?!?!

BOLAS! Nem consigo insultar decentemente a esquerda!Mas volto a reafirmar que o sr. não tem curriculo para ser nódoa de molhenga de refogado, por exemplo!)

... volto já!

agosto 14, 2005 9:59 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Bem, mas a minha vinda aos "comments" deve-se ao seguinte:

"A postura arrogante de quem está no poder há muito tempo sem adversário à altura"
... e continua sem haver!!!

"O senhor foi derrotado nas eleições pelo vergonhoso António Guterres e o país derrapou lentamente para o pântano"
... sublinho o "lentamente"!!! Lentamente?!?!?!?!

"impossível o PS não ganhar as eleições ao indiscritível Pedro Santana Lopes"
... infelizmeente, concordo! Se bem que tenho que reconhecer algumas capacidades paranormais de uma homem que foi um "não-candidato", já que toda a gente sabe que os politicos prometem coisas - muitas vezes disparates - e este nada prometeu. E ganhou!
Este país assusta-me!!!!!

"Fiquei intrigado com a possibilidade de alguém que já foi presidente por duas vezes poder voltar a ser."
... não concordo com a possibilidade, pelo menos neste caso particular, mas é democraticamente possível (por enquanto). De qualquer forma, à semelhança do que nutres pelo MISTER Cavaco, apercebo-me aqui de alguns receios, que até posso reconhecer como normais a quem viveu sob uma ditadura...
... por outro lado, para quem nasceu em 1977!...
Acho mais preocupante a polícia ter o despautério de dizer que cortam pontes e que se for necessário destituem o governo!!!! E ninguém reagir a isto!

"Em primeiro lugar, devo dizer que se há um limite de idade inferior para se ser Presidente da República, não percebo porque é que não há um limite superior"
... ou porque é que não são exigidos atestados que neguem a demência - quando isso é possível! Além de que este sr. até foi portagonista do maior número de viagens de q há memória por parte de um governo, pelo que esse "complemento de reforma", também não parece justificar...

"já nos bastaram os 48 anos de ditadura maligna"
... EU NÃO DIZIA!!!! Tinhas que vir com alguma deste género!!!!

agosto 14, 2005 10:19 da tarde

 
Blogger Hugo Viseu said...

Carla, tu já sabes bem que temos muitas divergências políticas, mas do "ditadura maligna" não abdico e acho que negá-lo, seria revisionismo histórico.
Agora: "postura arrogante" - sim, ainda não apareceu nenhum melhor.
"lentamente" - sim, e os teus amigos também não ajudaram muito.
"indiscrítivel" - qualquer coisa era melhor que ele, inclusivé o "não candidato".
"intrigado com a possibilidade" - Se a história serve para alguma coisa, será para não repetirmos os erros do passado. Nascer antes ou depois de 74 não dá, na minha opinião, mais autoridade para discutir democracia. Preocupa-me, como deve preocupar qualquer pessoa que prefira uma democracia ao que havia antes.
"limite de idade" - ahahahahahah! Eu adoraria ver este senhor ter de passar por algo desse género, mas acho que a bem do direito ao bom nome que todos os cidadãos têm, preferia que fosse excluído por um simples limite de idade.

agosto 15, 2005 12:17 da tarde

 
Blogger Hugo Viseu said...

Ah! E já agora, quem é que disse que cortava pontes e destítuia o governo? E porque é que esse(a) senhor(a) não foi ainda exonerado?

agosto 15, 2005 5:18 da tarde

 

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