Conversa, futebol, cinema, música, viagens, banda desenhada, culinária e as coisas estranhas que acontecem na minha vida.

domingo, março 05, 2006

A conhecer Madrid - a linha 1 do Metro

Julgo que a melhor maneira de conhecer uma cidade tão grande como é Madrid é numa primeira fase através dos seus eixos principais e posteriormente tentar "ligar os pontos". Assim, decidi percorrer pela superfície as linhas do metro. Uma por semana, uma bela caminhada de 3 horas, é saudável, distrai e ajuda-me a conhecer a cidade.
Há já umas semanas fiz a linha 3, a mais próxima de minha casa, mas dessa falarei depois. Começo assim pela linha 1. Subindo o Paseo de Delícias, onde moro, chego perto da estação de comboios de Atocha e da estação de metro de Atocha, onde inicio o meu percurso. A linha 1 de metro não começa nem acaba nesta estação. Para sul já fui antes enquanto procurava casa, e apesar de algumas coisas interessantes, está longe do centro, é das áreas mais degradadas e menos concorridas e assim decidi que a minha curiosidade, por agora, não me levava a querer começar por ali. Assim, subi a calle Atocha.
No primeiro dia que cheguei a Madrid e comecei a procurar casa, saí da estação de comboios de Atocha e também subi esta rua, por isso é quase poético que comece a minha exploração sistemática da cidade por aqui. Esta rua está cheia de comércio variado e foi aqui que vim à internet nos primeiros dias antes de estar instalado, fiz os meus telefonemas, comprei o cartão do telemóvel, comi, etc... ou seja, era a minha "base" antes de eu estar realmente instalado.
Chegando à estação de Anton Martin, viro à esquerda, seguindo pela calle Magdalena até à Plaza de Tirso de Molina. Sendo hoje domingo, preocupo-me em evitar "El Rastro", mas os tapumes da obras cujo objectivo me escapa separam-me da confusão enquanto procuro a rua certa para virar à direita em direcção a Sol. Encontro a rua da saída do cinema Yelmo (a Dr. Cortezo) que me leva à plaza Jacinto Benavente, ponto importante da agitação de copos e vida nocturna da zona de Sol.
Ao seguir, pela calle Carretas, lembro-me que pode ser um bom dia para comprar alguma das três peças de roupa que preciso comprar. O sinal de "rebajas" na primeira loja é um bom indicador disso. Sigo com calma pela pequena calle Carretas até Puerta del Sol entrando nas lojinhas, mas sem comprar nada. Atravesso a praça e sigo pela calle Montera, onde da primeira vez que passei, sozinho e por volta da 1h30 da manhã, uma prostituta chegou a agarrar-me para eu lhe dar um bocado de "atenção". Recusei menos delicadamente do que devia na altura, mas não gosto que me agarrem. Durante o dia, contudo, a rua é composta por um conjunto de lojas de tatuagens, piercings, sex shops, locais de espectáculos de strip tease e restaurantes com melhor e pior aspecto, muitos fechados, poucos abertos.
Chego assim à Gran Via. Atravesso-a e escolho cuidadosamente a rua que me levará à estação Tribunal. Reconheço o nome de uma rua, Fuencarral, que sei que irá ter à estação seguinte, Bilbao, onde fui ver um quarto no número 107 desta rua. Sigo assim pela calle Fuencarral pensando já no que havia de comer. Nesta rua continuam as muitas lojas de roupa, iguais (a maioria delas) às que temos nos centros comerciais portugueses, mas será sem dúvida uma rua que as meninas devem gostar de visitar. Reparo num restaurante tradicional "Ribeira do Miño" e vou espreitar. Tal como o nome parece indicar, é um restaurante Galego e parece barato e parece concorrido e parece ter bom aspecto. A lembrar para uma futura ocasião. Este mês o salário foi menor, por isso mais vale seguir em frente. Chego à estação Tribunal e continuo em frente. À procura de mais um restaurante, recuso aquele para o qual espreito e decido-me que entro no próximo Kebab que encontrar... tipicamente... turco! Olho para a direita e leio "Doner Kebab". Foi rápido. Como diria Basak, "conquering the world through Doner Kebabs". Espreito para ver se há alguma razão para o rejeitar e o facto da clientela ser praticamente toda da minha idade e nenhum ser turco dá-me alguma confiança adicional. Como, demorando-me tanto como deveria demorar, noto que o proprietário é afegão (não turco) e sigo ainda pela calle Fuencarral.
Chego à glorieta de Bilbao e lembro-me como fiquei excitado com a possibilidade de morar nesta praça quando vim ver a casa do 107. O prédio então, esse é lindo... mas ao entrar e apeceber-me que teria de partilhar a casa com a dona, avó, mais quatro pessoas (que nunca saberei quem são), um neto de quem a avó toma conta durante o dia e apenas uma casa de banho... rapidamente me escusei com "não ser bem o que eu estava à espera" e saí de lá rapidamente. Nada tira porém brilho à praça, especialmente hoje, que o sol brilhava, apesar do vento frio que irritava e obrigava a por as mãos nos bolsos.
Meto caminho pela calle Luchana e tenho tempo de entrar numa livraria onde a pessoa que atendia falava português com alguém. Não digo uma palavra e sigo pela rua, virando à esquerda na plaza Chamberi, apanhando assim a calle Santa Engrácia. Estou agora numa zona menos animada, provavelmente com muitos escritórios e que perde o movimento durante o fim de semana, um pouco como a zona onde moro em Lisboa. Já me estou a afastar do centro também. Nota-se bem a diferença. Vejo a igreja da estação Iglésia, passo por Rios Rosas, por onde procurei muitas casas e chego a Cuatro Caminos, onde começa a linha 2 e de onde provavelmente começarei o meu trajecto da próxima vez que repetir estas caminhadas.
A partir daqui falta apenas uma única rua. As próximas quatro estações de metro antes de chegar à Plaza Castilla, o meu destino final são todas na calle Bravo Murillo, enorme avenida que percorre a cidade de norte a sul partido do mesmo ponto que o Paseo de la Castellana, mas que a partir de Cuatro Caminos desce paralelamente a este. Assim, faltava seguir a calle Bravo Murillo no troço em que curva, desembocando na Plaza Castilla e no Paseo de la Castellana. Aqui volta a haver agitação, mas notamos que estamos já fora da das zonas nobres da cidade. O comércio mais popular, os prédios mais baixos, as ruas perpendiculares que acabam mesmo à frente em prédios velhos ou descampados, a menor imponência e cuidado com os edificios. Tristemente lembrou-me Lisboa e isto não é lisongeiro para a minha cidade.
Passo por Alvarado, Estrecho, Tetuán e Valdeacederas e por aqui vou distraído com pensamentos que não estão ligados ao que vejo, tal é o desinteresse desta zona. Pensando à posteriori, será provavelmente o mesmo que encontrarei quando decidir fazer o resto da linha um para sul de Atocha ou Atocha Renfe. Animado, mas não acrescenta muito à cidade. Mas pelo menos já sei o que aqui está.

Etiquetas:

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Now, this is quite a bit of travel prose!

março 17, 2006 3:23 da manhã

 
Blogger Hugo Viseu said...

Vai haver mais...

março 17, 2006 10:42 da manhã

 

Enviar um comentário

<< Home