Conversa, futebol, cinema, música, viagens, banda desenhada, culinária e as coisas estranhas que acontecem na minha vida.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Livros velhos

Antes de vir para Espanha reparei numa coisa que me irritou profundamente: tinha cerca de sete ou oito livros que tinha começado a ler e por uma razão ou outra, nunca tinha terminado. Assim, trouxe uns poucos desses para ler aqui em Espanha, já que sabia que iria fazer commuting e nada melhor que tentar ocupar esse tempo com "cultura", ou uma vã tentativa de transformar tempo desperdiçado (odeio commuting) em tempo vocacionado para algo útil e que eu sei que não faço tanto como devo, como é ler (tudo o que não seja banda desenhada).
O resultado foi que, por exemplo, um livro que tinha começado a ler DUAS vezes, termine-o em dez dias. Assim Falou Zaratustra do Friedrich Nietzsche foi a vítima. O raio do livro consegue ser muito interessante, muito chato, cheio de citações engraçadas, machista, visionário, dar lições de vida úteis, encher chouriços, indiciar loucura por parte do seu autor entre outras coisas. Mas finalmente, depois de duas tentativas falhadas, consegui chegar até ao fim e discernir algo sobre o que foi escrito.
O lindo de constatar, e razão inicial deste post, é que livros velhos têm o seu quê. Este, de tanto ter sido aberto, mudado de sítio, transportado, guardado na prateleira, tinha já as páginas velhas e amarelas por fora e branquinhas por dentro, o que denota já uma certa idade (e qualidade de papel). E depois tinha frases sublinhadas por mim, que por muito que me lembre não faz sentido nenhum que eu as tenha sublinhado... Havia uma sobre uma "vaca Tristeza" e outra sobre a "Fome salteadora"... Garanto-vos não faço ideia onde tinha a cabeça naquela altura.
A próxima vítima também tem uma história engraçada. O livro é o Paradigma Perdido, de Edgar Morin. Pelo que me lembro é uma tentativa de integração da Antropologia com a Biologia, construindo uma "ciência única do Homem" que explique a civilização humana mas dentro de uma perspectiva da sociologia animal e das condicionantes biológias. Agora a história deste livro é interessante. E o que lá vinha dentro.
O livro foi emprestado por um amigo meu que estudava Sociologia no ISCTE e ao mesmo tempo era meu colega de trabalho no restaurante onde eu me financiava na altura. Em troca, emprestei-lhe a "bíblia" do curso de Economia, o livro do Samuelson. Entretanto, ele foi fazer Erasmus e eu deixei a universidade. Perdemos o contacto. Assim, cada um de nós ficou com o livro do outro. Ele ganhou em peso, eu ganhei em conteúdo (eheheh).
Adicionalmente, tinha dois separadores. Um deles era uma fotografia da minha namorada da altura em que tentei ler o livro pela primeira vez. Outro era um flyer da festa de carnaval do Indústria de 1999!!!! Outro livro antigo. E as histórias que os livros têm...
Peguem nos vossos livros antigos, pode ser que tenham surpresas.

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